Honrar a FOME | Alimentação Intuitiva
No artigo anterior falei que a alimentação intuitiva tem 10 princípios, tendo apresentado o primeiro deles a rejeição da ideia de dieta.
HONRAR A FOME é o segundo princípio e faz-nos levar a sentir verdadeiramente o nosso corpo.
Sentir fome é um mecanismo biológico que nos permite activar um conjunto de reacções que fazem com que o nosso organismo poupe energia e mantenha as funções vitais para que se mantenha vivo, podemos dizer que entra num mecanismo de poupança garantindo substrato para o que é realmente importante até que haja novo alimento.
Podem pensar que talvez eu esteja a incentivar à fome, mas não é de todo esse o meu objectivo. O meu objectivo e o deste princípio é no sentido de sentirmos aquela fome ligeira quando passamos 3, 4 ou 5 horas sem comer. Em que o nosso corpo dá alguns sinais e percepcionamos que temos de nos alimentar. O tempo em que isso acontece é individual e é também pautado pelo dia-a-dia de cada um. O objectivo maior é conectarmos-nos com o nosso corpo.
Que sinais são esses? Aponto alguns considerando que há sempre a questão da individualidade.
Barulhos no estômago, ver luzinhas, dificuldades de concentração, dores de estômago, irritabilidade, sentir-se faminto, dores de cabeça.
Vários factores podem contribuir para silenciar os sinais da fome.
Um corpo sujeito a dietas de restrição consecutivas pode já não perceber os seus sinais. A oscilação entre longos períodos de jejum e períodos de excesso de comida, podem deturpar a escuta levando a não respeitar os sinais fisiológicos, algo que ocorre frequentemente pelo medo de engordar. Nesta situação, não responder ao sinal mais ténue de fome e prolongar esse processo por mais tempo pode desencadear numa “crise” de compulsão alimentar, perpetuando um ciclo de ausência/excesso de alimento e, na maioria das vezes, culpa.
Outras vezes, a ocupação com trabalho ou outras tarefas absorventes fazem-nos desligar dessas sensações e quando paramos, aí sim, “ah estou cheia de fome” e comemos qualquer coisa ricamente energética que esteja em nosso redor.
A fome emocional também parece desalinhada da fome fisiológica. Muitas de nós, com problemas emocionais, sente sempre fome e não consegue conectar-se com o seu corpo. A comida aqui pode ter papel de conforto, anestesia, prazer, algo que não conseguimos ainda encontrar noutros campos da nossa vida. É muitas vezes referido como preencher o “vazio” com comida. Aqui, é importante promover uma atitude positiva e procurar outras formas de lidar com as nossas emoções, no sentido de não levar esse ciclo emocional à compulsão e à culpa. Muitas vezes é necessário procurar ajuda.
Saliento, que este segundo principio não pretende ser uma regra nem um mecanismo para emagrecer, pois não comemos só quando temos fome, comemos quando nos apetece, em convívio, quando estamos perante um alimento que gostamos muito. Este princípio é uma ferramenta de auxílio para sentir os limites do nosso corpo.
Nós e as crianças, comemos nos intervalos do trabalho e/ou escola como prevenção de sentir uma fome maior já que não teremos como comer na altura em que sentiremos verdadeiramente fome. Não há nada de errado com isso, mesmo comendo sem fome, pois isso permite-nos assegurar que nas horas seguintes não ficamos com sintomas de fome que coloquem em causa o nosso rendimento e bem-estar, como falta de concentração, irritabilidade e outros já citados.
Refiro também que algumas pessoas ficam bem 4 ou 5 horas sem comer, outras precisam comer a cada 2 ou 3 horas, notando que o hábito e as rotinas têm o seu papel e que não há um certo ou um errado. Considerar que é muito mais simples parar de comer quando sabemos que voltaremos a comer e que, evitar longos períodos sem comer, nos permite esse equilíbrio físico e psicológico, tanto em adultos como em crianças.
Conhecermos-nos é a melhor forma de nos prevenirmos e alimentarmos quando precisamos e podemos.
Honra a tua fome. A fome é um indicativo natural que indica quando devemos comer. Sente o teu corpo, a tua individualidade. Sentir aquela fome inicial, ténue, pode ligar-nos e orientar-nos na forma como e quando nos alimentamos e, naturalmente, ajustarmos a nossa fome ao nosso ritmo de vida.
REFLEXÕES – como começar a ouvir os sinais da fome:
- Quando foi a ultima vez que senti fome? Como se sentiu o meu estômago?
- Tenho fome? De 0 a 10 qual é o meu nível de fome?
- Costumas esperar sentir fome para ires comer?
- Que sinais reconheces no teu corpo quando tens fome? Como te sentes quando tens fome?
(Se és mãe podes também fazer estas questões e ajudá-lo a perceber como funciona o seu corpo e os seus sinais?)
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